A casa do silêncio tem quatro portas e quatro casas A primeira porta na casa do silêncio é a porta da sabedoria A casa da sabedoria é enorme. Tão grande que mal se lhe vê o fundo. Portas e janelas, seguidas de mais portas e janelas Quando caminhamos, as portas e as janelas deslizam ao nosso lado à mesma velocidade e não conseguimos chegar ao fim Na casa da sabedoria os visitantes desprevenidos perdem-se. Por isso, os guardiães deixam pistas que indicam o caminho
A segunda porta na casa do silêncio é a porta do amor A casa do amor contem uma luz (trá)mágica que nos atrai(çoa) Nos v(b)estiários vestimos fatos bestiais para os papéis ridículos que desempenhamos A casa do amor não tem portas nem janelas. Tem a forma de um peito aberto
A terceira porta na casa do silêncio é a porta da morte A casa da morte é coberta de espelhos, onde vemos o tempo (in)vertido correr ao contrário O tempo reflectido bate de chapa nos nossos olhos, com o som (es)tridente de metal percutido. Fechamos as pálpebras e a memória húmida escorre à frente das pupilas
A última porta na casa do silêncio é porta da arte A casa da arte é uma casa vazia. Há apenas pequenas pedras que cada visitante pode meter ao bolso As pedras da arte servem para partir as vidraças das outras três casas Quem quebrou as vidraças das outras três portas consegue ver a porta da morte pelo lado de fora Renato Roque - Março 2004 |